O fim da Primeira Guerra Mundial marcou, na Alemanha, o início de um processo inflacionário cujo resultado foi a derrocada do mercado imobiliário. Afinal, que investidor privado estaria disposto a construir se os custos não poderiam ser calculados?
O resultado foram subvenções e uma política residencial estatal que caracterizou todo o século 20. Pela primeira vez na história, o direito a uma moradia decente tornou-se realidade para um grande número de famílias.
A “moradia para todos” era uma dos direitos fundamentais da Constituição de Weimar, que instituiu a primeira república na Alemanha em 1919. Os métodos de produção e a arquitetura industriais influenciaram as construções da época.
Tempos e movimentos no trabalho
O fato de o mercado imobiliário estar nas mãos de grandes cooperativas levou à construção de conjuntos habitacionais, cuja localização somente se tornava possível nas periferias das cidades. Diferentemente da habitação burguesa do século 19, não era mais a função social dos cômodos o fator determinante das plantas das habitações.
A experiência industrial dos Time and Motion Studies (estudos dos tempos e movimentos no trabalho) traduziu-se em planta: quando a mulher chega em casa, ela vai primeiramente à cozinha, que fica junto à copa, e esta, por sua vez, está ligada à sala de estar da família. Em vez da compactação urbana do século 19, as novas moradias deveriam oferecer luz e ar para todos. Os antigos quarteirões foram substituídos por blocos soltos.
Apesar de a habitação ter se tornado o tema principal entre os arquitetos da época, o funcionalismo se sobrepôs à questão artística. A forma e o detalhe foram trocados pela estrutura amorfa. Era o início do modernismo na arquitetura, cujo racionalismo ficou conhecido como Neues Bauen (nova construção) e culminou, poucos anos mais tarde, no International Style (estilo internacional), tão combatido pelos arquitetos pós-modernos.
“Comunismo e judaísmo internacional”
Por volta de 1910, Mies van der Rohe, Le Corbusier e Walter Gropius, considerados os pais do modernismo na arquitetura, trabalhavam todos no escritório de Peter Behrens em Berlim.
A experiência de Behrens nos trabalhos para a companhia elétrica berlinense AEG, para qual projetava desde o logotipo até os prédios da firma, influenciou fortemente o processo de industrialização da construção, decisivo para a superação do dilema artístico relativo ao novo estilo arquitetônico.
Gropius se tornaria mais tarde o primeiro diretor da Bauhaus – a mais importante escola de design e arquitetura do século 20. Fundada em Weimar em 1919, ela se mudou em 1925 para a sede racionalista projetada por Gropius em Dessau.
Após a transferência para Berlim por motivos políticos em 1932, então sob a direção de Mies van der Rohe, a escola foi fechada pelos nazistas em 1933. Para os adeptos de Hitler, modernismo era sinônimo de “comunismo” e “judaísmo internacional”.
Conjunto habitacional Weissenhof
Um dos principais exemplos do Neues Bauen é a exposição de arquitetura no Weissenhofsiedlung em Stuttgart. Chefiados por Mies van der Rohe, 17 arquitetos de diversos países, entre eles Peter Behrens, Walter Gropius e Le Corbusier, desenvolveram projetos para a mostra de 1927. Mais de 500 mil pessoas visitaram, naquele ano, os 21 prédios da exposição de arquitetura, construída para se tornar um exemplo de morada para o homem moderno das grandes cidades.
Com plantas baixas flexíveis, os arquitetos da Bauhaus tentaram criar aí uma atmosfera saudável, plena de luz e ventilação. Em comum, estavam a superação do ecletismo arquitetônico, a junção da arquitetura com a vida e o emprego de novas técnicas e novos materiais. Sua arquitetura era cúbica e sem ornamentos. Um mínimo de forma deveria garantir o máximo de liberdade.
Weissenhof caiu em desgraça após 1933. Criticado pelos nazistas como uma “vergonha”, “subúrbio de Jerusalém” ou “cidade de árabes”, a Segunda Guerra lhe poupou a demolição. O conjunto habitacional foi restaurado nos anos de 1980 e recebe, anualmente, milhares de turistas. O mesmo aconteceu com o prédio de Gropius em Dessau: restaurado entre 1996 e 2006, o edifício da Bauhaus é, hoje, Patrimônio Cultural da Humanidade.
Urbanismo pós-guerra
As bombas da Segunda Guerra destruíram, principalmente, regiões de grande densidade urbana. Dos 18,8 milhões de moradias, 4,8 milhões foram completamente destruídos. Assim como em Berlim e Munique, o grau de destruição chegou a 50% em mais de 50 cidades alemãs. Em Colônia, Hamburgo, Nurembergue, Dortmund, Essen e Frankfurt, por exemplo, ele ultrapassou os 70%.
A reconstrução das áreas destruídas recusou, tanto na ex-Alemanha Oriental como na Ocidental, a alta densidade urbana. No oeste, a idéia dos blocos distribuídos em vias vicinais e principais – a "cidade orgânica" apropriada para automóveis – foi privilegiada. A antiga Alemanha comunista seguiu o padrão conservador dos quarteirões com imensos pátios, espalhados ao longo de um eixo monumental, como se observa em Eisenhüttenstadt, antiga Stalinstadt.
O apolíneo e o dionisíaco
O Parque Olímpico de Munique, projetado por Günter Behnisch e Frei Otto entre 1968 e 1972, é exemplo da arquitetura pós-guerra. Seu contraste com o Estádio Olímpico de Berlim, construído pelos nazistas para a Olimpíada de 1936, não é ocasional. Em vez do caráter apolíneo historicista do estádio de 1936, a Alemanha se abria a experiências arquitetônicas dionisíacas, como demonstra a estrutura em membrana acrílica que cobre como uma tenda o Estádio Olímpico de Munique.
Acompanhando o espírito modernista dos arquitetos da Bauhaus, Behnisch chegou ainda a construir, entre 1992 e 1993, a sala do plenário do antigo Parlamento alemão em Bonn. O prédio foi usado por poucos anos. Com a mudança da capital em 1999, o Parlamento retornou à antiga sede, o prédio do Reichstag, em Berlim.
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