Após a vitória na guerra teuto-francesa de 1870–71, o recém-formado Império Alemão vivenciou intenso crescimento econômico. A Alemanha equiparava-se, já no fim do século 19, às nações mais industrializadas da Europa. Pouco antes da Primeira Guerra Mundial, a balança comercial alemã superava a da Bélgica, Inglaterra, França e até mesmo a dos Estados Unidos.
As reparações de guerra pagas pelos franceses permitiram uma onda inicial de fundação de empresas que deu nome ao período: Gründerzeit (era dos fundadores). Industrialização, crescimento populacional e a forte migração do campo para a cidade foram os principais fatores do crescimento urbano inimaginável do século 19. Com a substituição da manufatura pela indústria, surgiram blocos exclusivamente dedicados à moradia e outros ao trabalho.
A invenção da locomotiva e da linha férrea e o posterior desenvolvimento dos transportes públicos através da eletrificação de bondes e metrôs permitiram a expansão da cidade compacta tradicional. Um planejamento urbano, como hoje se conhece, não existia. Até 1918, a especulação imobiliária dominou o mercado residencial.
Ordem urbana bem-definida
Seguindo a orientação liberal-capitalista, a ampliação urbana da época se fez de forma racionalista, dividindo a cidade em parcelas retangulares com frente estreita e grande profundidade, permitindo somente um mínimo de luz e ventilação.
O aproveitamento máximo do terreno e alta densidade, ou seja, a construção em vários pavimentos, foram conseqüências da lógica especulativa. Tais quarteirões tornaram-se unidade de ampliação urbana.
Traçadas ruas e praças, a elas se deveriam adaptar os novos prédios. Construídos em parcelas iguais, suas fachadas eram unitárias, mas não semelhantes. A clara separação entre espaço público e privado transmitia a idéia de uma ordem urbana bem definida. Além do pé-direito alto das moradias, a proximidade do centro explica o fascínio que, ainda hoje, tais quarteirões exercem sobre inquilinos e proprietários.
Imagem distorcida
No entanto, a imagem que chegou da cidade do século 19 é distorcida, pois, na verdade, era um grande cortiço. A altíssima densidade urbana dos blocos residenciais provocava endemias como a epidemia de cólera de 1892, em Hamburgo, que causou a morte de mais de 10 mil pessoas. Diferentemente da Inglaterra, onde a habitação individual também foi privilegiada, a cidade industrial alemã assumiu a forma da Mietskasernenstadt (cidade de casernas de aluguel).
Em Berlim, tanto a burguesia do bairro de Charlottenburg como o proletariado de Kreuzberg vivia em prédios de vários pavimentos. Enquanto uma família burguesa habitava apartamentos de sete a oito cômodos, cujo rebuscamento das fachadas era sinal de status, uma família proletária de cinco pessoas dividia, freqüentemente, uma só peça, onde o banheiro se localizava no pátio ou corredor. Contra tal situação se posicionaria a arquitetura moderna do início do século 20.
Apesar da insalubridade do século 19, a infra-estrutura urbana (canalização, esgoto) foi aperfeiçoada e a expectativa de vida aumentou. Além de igrejas e prefeituras, o que se observa no período é o grande número de novas construções que também receberam tratamento arquitetônico. Museus, teatros, óperas, hospitais, estações ferroviárias, entre outros, tornaram-se também representantes do poder estatal através de sua arquitetura.
Neoclassismo e neogótico
Na arquitetura, o século 19 foi marcado pelo início da racionalização da construção e pelo ecletismo de estilos arquitetônicos que marcou tanto as cornijas e frontões das fachadas de prédios residenciais como o caráter dado aos diferentes edifícios privados e estatais.
A falta de um estilo que correspondesse à nova era industrial, a separação do pensamento arquitetônico do pensamento filosófico promovido pelo racionalismo e a necessidade de representação da burguesia e dos novos Estados nacionais provocaram o surgimento de tendências como o neoclassicismo e o neogótico para caracterizar prédios públicos e religiosos, o que já vinha se anunciando desde o começo do século através da obra do arquiteto-mor da Prússia, Karl Friedrich Schinkel.
Poucas vozes surgiram contra tal tendência tão combatida anos mais tarde por arquitetos precursores do Modernismo, como o austríaco Adolf Loos em seu famoso artigo Ornamento e Crime de 1908. Dos arquitetos alemães da segunda metade do século 19, o teórico e arquiteto da Ópera de Dresden, o hamburguês Gottfried Semper (1803–1879), merece atenção especial.
O arquiteto de Nietzsche
Em seu estudo Policromia, de 1834, Semper põe a baixo a idéia da pureza da Antigüidade clássica grega, provando que seus prédios, idealizados em mármore branco por pintores e arquitetos do Iluminismo, eram na verdade pintados. Tal estudo veio a influenciar a obra do filósofo Friedrich Nietzsche na constatação do caráter dionisíaco e apolíneo da cultura grega. Para Nietzsche, Semper foi o "maior arquiteto de sua época". Sua obra mais famosa é a Ópera de Dresden, conhecida como Semperoper, construída entre 1869 e 1878 na capital da Saxônia.
A arquitetura barroca de Roma lhe deu o exemplo para o portal de entrada que garante o contínuo entre o corpo da edificação e o espaço urbano. Como afirma o teórico da arquitetura Fritz Neumeyer, Semper praticou em Dresden a diferenciação dos lados apolíneo e dionisíaco da arquitetura: enquanto o espaço da caixa de palco era dominado por Apolo, identificado através da lira pintada no teto, é a estátua de Dionísio que coroa o portal de entrada e o caráter festivo do invólucro da edificação.
Além de combater a racionalização da construção, criticando duramente o sistema de eixos construtivos, Semper promoveu o retorno ao Renascimento como forma de reunificação das artes e foi precursor de um movimento na arquitetura que privilegiou a percepção do corpo e da superfície à lógica da técnica construtiva. Se foi Schinkel quem influenciou arquitetos racionalistas como Mies van der Rohe, a influência pouco estudada da obra de Semper chega aos nossos dias através de arquitetos "nietzchenianos" como Oscar Niemeyer e Zaha Hadid.
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