Capela em Valinhos, SP, Decio Tozzi
Pequenos templos particulares vencem os gigantes neoclássicos
Na década de 2000, como na anterior, o Brasil passou por um fenômeno que os especialistas chamam de trânsito religioso: a passagem de fiéis de uma igreja para outra. Resumo da ópera: o país perdeu católicos na mesma proporção que ganhou evangélicos. Mesmo sem a divulgação dos dados oficiais do censo do IBGE de 2010 a respeito, projeções confirmam esse movimento: no início dos anos 2000, 74% da população brasileira era católica (IBGE); em 2007, uma pesquisa da Fundação Getúlio Vargas apontava esse grupo na casa de 64%.
A mesma instituição revelava que, no início da década, o número de evangélicos crescia 1% ao ano. Esse agigantamento é visível a olho nu: das pequenas às grandes cidades, é evidente o surgimento de novos templos, sem preocupações arquitetônicas de nível elevado. Grosso modo, valem-se do simulacro do clássico, presente no ornamento de construções que às vezes ocupam quase um quarteirão, como é o caso da Igreja Universal do Reino de Deus em Natal e em Belo Horizonte.
A reação católica vem com o movimento carismático, que, de alguma forma, reverbera a dinâmica do culto evangélico. Nesse contexto, uma das figuras mais expressivas do período é o padre Marcelo Rossi, que encomendou a Ruy Ohtake o desenho de um enorme templo a ser construído em Santo Amaro, zona sul paulistana.
A irrelevância arquitetônica dos templos de grande porte abre clareiras para as pequenas igrejas, sobretudo do catolicismo. Outro dado interessante nessa vitória de Davi sobre Golias é que a maioria das obras de ponta foi construída em propriedades privadas: são capelas particulares que dão continuidade a uma tradição que remonta à propriedade rural do início da colonização.
Entre elas, chama a atenção a capela em Valinhos, interior de São Paulo, desenhada por Decio Tozzi. Na beira de um lago, a construção é formada somente por uma casca de concreto que se apoia em quatro pilares, com a cruz dentro da água. Também no interior paulista, e propondo uma integração diversa com a natureza, a capela em Tatuí, de Beatriz Meyer, utiliza madeira e pedra para erigir a desejada relação com o sagrado. Já no templo ecumênico que desenhou em Ibiúna, SP, Sérgio Kipnis fecha o espaço ao entorno para favorecer a concentração nas orações.
Ainda no terreno privado encontra-se a capela de Nossa Senhora da Conceição, no Recife, desenhada por Paulo Mendes da Rocha e Eduardo Colonelli e construída dentro da propriedade de Francisco Brennand. O projeto se apropria das ruínas de uma antiga residência (o que a gabarita também para a análise sob o viés da revitalização, especialidade de Mendes da Rocha) e constrói a cobertura de forma inusitada, com apenas dois pilares de concreto.
Também particular, o templo ecumênico que Manoel Coelho criou em Curitiba fica dentro de um lago, em um campus privado, e liga-se à margem por uma passarela. Brises de alumínio de formato irregular singularizam a obra, em meio a outros projetos do arquiteto.
Uma das poucas obras comissionadas por uma ordem religiosa é o anexo do Convento São José, implantado em São Paulo, projeto de Ivanir Abreu e Luiz Felipe Pinto. Na mesma linha está a igreja e sede paroquial em Barueri, SP, de Mario Biselli e Paola Sauaia. Ela se destaca pela cobertura, formada, basicamente, por um plano inclinado e o trecho de um arco. O tema é frequente na produção de Biselli, autor de colégios religiosos e casas pastorais, em construção.
Entre os templos judeus, não há um destaque relevante; é digno de nota o Centro Bait, em São Paulo, desenhado por Maria Cecília e Michel Gorski. Contudo, é significativo o investimento da comunidade judaica em outros programas - culturais e hospitalares, por exemplo.
A mesma instituição revelava que, no início da década, o número de evangélicos crescia 1% ao ano. Esse agigantamento é visível a olho nu: das pequenas às grandes cidades, é evidente o surgimento de novos templos, sem preocupações arquitetônicas de nível elevado. Grosso modo, valem-se do simulacro do clássico, presente no ornamento de construções que às vezes ocupam quase um quarteirão, como é o caso da Igreja Universal do Reino de Deus em Natal e em Belo Horizonte.
A reação católica vem com o movimento carismático, que, de alguma forma, reverbera a dinâmica do culto evangélico. Nesse contexto, uma das figuras mais expressivas do período é o padre Marcelo Rossi, que encomendou a Ruy Ohtake o desenho de um enorme templo a ser construído em Santo Amaro, zona sul paulistana.
A irrelevância arquitetônica dos templos de grande porte abre clareiras para as pequenas igrejas, sobretudo do catolicismo. Outro dado interessante nessa vitória de Davi sobre Golias é que a maioria das obras de ponta foi construída em propriedades privadas: são capelas particulares que dão continuidade a uma tradição que remonta à propriedade rural do início da colonização.
Entre elas, chama a atenção a capela em Valinhos, interior de São Paulo, desenhada por Decio Tozzi. Na beira de um lago, a construção é formada somente por uma casca de concreto que se apoia em quatro pilares, com a cruz dentro da água. Também no interior paulista, e propondo uma integração diversa com a natureza, a capela em Tatuí, de Beatriz Meyer, utiliza madeira e pedra para erigir a desejada relação com o sagrado. Já no templo ecumênico que desenhou em Ibiúna, SP, Sérgio Kipnis fecha o espaço ao entorno para favorecer a concentração nas orações.
Ainda no terreno privado encontra-se a capela de Nossa Senhora da Conceição, no Recife, desenhada por Paulo Mendes da Rocha e Eduardo Colonelli e construída dentro da propriedade de Francisco Brennand. O projeto se apropria das ruínas de uma antiga residência (o que a gabarita também para a análise sob o viés da revitalização, especialidade de Mendes da Rocha) e constrói a cobertura de forma inusitada, com apenas dois pilares de concreto.
Também particular, o templo ecumênico que Manoel Coelho criou em Curitiba fica dentro de um lago, em um campus privado, e liga-se à margem por uma passarela. Brises de alumínio de formato irregular singularizam a obra, em meio a outros projetos do arquiteto.
Uma das poucas obras comissionadas por uma ordem religiosa é o anexo do Convento São José, implantado em São Paulo, projeto de Ivanir Abreu e Luiz Felipe Pinto. Na mesma linha está a igreja e sede paroquial em Barueri, SP, de Mario Biselli e Paola Sauaia. Ela se destaca pela cobertura, formada, basicamente, por um plano inclinado e o trecho de um arco. O tema é frequente na produção de Biselli, autor de colégios religiosos e casas pastorais, em construção.
Entre os templos judeus, não há um destaque relevante; é digno de nota o Centro Bait, em São Paulo, desenhado por Maria Cecília e Michel Gorski. Contudo, é significativo o investimento da comunidade judaica em outros programas - culturais e hospitalares, por exemplo.
Capela em Tatuí, SP, Beatriz Meyer
Templo ecumênico em Curitiba, Manoel Coelho
Capela em Ibiúna, SP, Sérgio Kipnis
Igreja e sede paroquial em Barueri, SP, Mario Biselli e Paola Sauaia
Anexo do Convento São José, São Paulo, Ivanir Abreu e Luiz Felipe Pinto
Capela no Recife, Paulo Mendes da Rocha e Eduardo Colonelli
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