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sábado, 18 de setembro de 2010

Sustentabilidade em Hospitais - Um problema cultural?

As discussões sobre a abordagem da sustentabilidade tem ocupado, por diversas vias, importante espaço em todas as atividades que demandam planejamento e considerações sobre a própria sobrevivência vinculada ao futuro.

Em um artigo publicado na revista Harvard Design Magazine nº 18, publicado em 2003, edição primavera/verão, pelo arquiteto norte-americano Wilfried Wang, professor da Universidade do Texas (USA) e de Berlin (Alemanha), ele apresenta uma importante discussão sobre a produção dos principais temas ambientais. Ao mesmo tempo, caracteriza os seus autores segundo suas perspectivas de manifestação, denominando-os: profetas ambientais.

Estes profetas são apresentados consolidados de quatro maneiras, formatados em distintos tipos:

• os histéricos, que advertem sobre o verdadeiro apocalipse,

• os pacificadores, que aderem à esperança,

• os irresponsáveis, que não vêem nenhuma ameaça direta,

• os fatalistas, que vêem o futuro como firmemente em declínio, com um fim breve e de forma inevitavelmente irreversível.

Segundo Wang, os três primeiros tipos, os histéricos, os pacificadores e os irresponsáveis, dominam o discurso contemporâneo. Seus pontos de vista fazem um contexto mais eficaz para que os meios públicos compartilham e necessitam em seus componentes políticos.

A visão dos fatalistas é a menos palatável para a sociedade em geral e para a mídia, em particular, na medida em que estão prosperando em uma mistura de medo e de esperança.

Segundo os conceitos estabelecidos pelo documento Os Limites do Crescimento, publicado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP) em 1972, adaptados posteriormente pela Comissão Brundtland, o desenvolvimento sustentável é aquele que satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazer as suas próprias necessidades.

Quando se trata dos ambientes de saúde, as edificações hospitalares e sua contribuição para a sustentabilidade ambiental, a primeira abordagem é a da inviabilidade de adequação e compatibilidade físico-funcional. De imediato e considerando as edificações existentes, há muito por fazer neste processo de adequações e inovações conceituais e projetuais.

Alguns importantes referenciais devem ser considerados nessa avaliação para o entendimento do impacto passível de ser produzido e que, de certa forma, pode levar em conta os seguintes aspectos:

• Funcionamento intensivo do estabelecimento ao longo das 24 horas diárias;

• Alto número de pessoas circulantes;

• Distintos centros de trabalho com demandas energéticas diferenciadas;

• Magnitude das instalações;

• Necessidade de dispor de sistemas estratégicos de reserva de equipamentos para fornecimento de energia.

A ineficiência energética e o desperdício são imagens comumente vinculadas ao ambiente hospitalar. Seja por descontrole da gestão administrativa e operacional, seja pelas características funcionais que obrigatoriamente demandam sistemas de reserva disponíveis a qualquer momento, sobretudo nos locais onde se processa a assistência médico-hospitalar.

No entanto, estudiosos e profissionais com atuação no ambiente hospitalar concordam que é possível trabalhar-se as deficiências através de ações de baixo custo e medidas simples, porém com impacto ambiental expressivo. Algumas dessas ações poderão ser alteradas através de modificações de procedimentos inerentes à conduta do capital humano, os usuários em todas as escalas de atividades profissionais.

Outro componente facilitador desta percepção de sustentabilidade está na aquisição dos equipamentos e materiais para a operacionalidade da função hospitalar. Considerar como prioridade a aquisição daqueles que tenham a identificação de reciclabilidade, economicidade energética e possibilidade de reutilização.

Algumas metodologias de trabalho visando contribuir com ações sustentáveis têm sido desenvolvidas em diversos países do mundo. Lançado pelo Building Research Establishment (BRE), em 1990 na Inglaterra, o BREEAM é a primeira metodologia de classificação ambiental disponibilizada em nível mundial pelo Centre Scientifique et Technique du Bâtiment (CSTB). É um dos métodos mais utilizados para avaliar o desempenho de edifícios e projetos em termos de uso de energia, impacto ambiental e indicadores de qualidade ambiental.

Posteriormente, em 1993 foi desenvolvido e lançado no Canadá, o BEPAC pelo National Resources Canada NRCan (CANMET Energy Technology Centre) e pelo Environmental Research Group da British Columbia University. O BEPAC dedica-se exclusivamente à avaliação de edifícios comerciais. Em 1996 nos Estados Unidos, foi desenvolvido pelo US Green Building Council (USGBC), instituição financiada pelo NIST (National Institute os Standards and Technology) o LEED (Leadership in Energy & Environmental Design). Oferece um esquema de classificação e certificação para edifícios comerciais. institucionais e residenciais de múltiplos pavimentos e tem iniciado as suas atividades com algumas certificações no Brasil.

O Green Building Council (GBC) é um consórcio internacional reunido com o objetivo de desenvolver um novo método para avaliar o desempenho ambiental de edifícios. Tal método apresenta flexibilidade para refletir diferentes prioridades, tecnologias, tradições construtivas ou valores culturais de diferentes países ou regiões no mesmo país.

Pouco antes, em 1993, havia sido criado na França um programa de avaliação voluntária denominado Haute Qualité Environnementale (HQE), que associa aspectos arquitetônicos da edificação a 14 alvos ambientais considerando critérios e indicadores.

Em diversas regiões outros modelos têm proliferado, enquanto no Brasil tem sido feitos ajustes e compatibilizações a alguns destes modelos existentes, sem a efetiva produção de um referencial local.

Sendo fatalista, irresponsável, pacificador ou histérico segundo os conceitos de Wang, não importa! Concretamente os edifícios hospitalares exigem diferenciais na sua concepção e, conseqüentemente, profissionais que os concebam com particular e especial formação de incorporar conceitos de sustentabilidade, relativizado à própria sobrevivência.

O que se incorpora, é que o futuro da atenção à saúde não mais admitirá hospitais e demais estabelecimentos que não contenham esta referência na concepção projetual, construtiva e de gestão.

O hospital sustentável mais que um conceito deverá ser uma formalidade contida nas leis, normas, regulamentos e nos princípios da formação dos profissionais que tenham responsabilidades periféricas. Os materiais de construção, os equipamentos prediais e os métodos de trabalho deverão instruir-se nas bases do desenvolvimento sustentável para a essência da sua sobrevivência.

Este não é um assunto esgotável, muito pelo contrário ele é dinâmico. Dinâmico e complexo assim como os componentes da assistência à saúde e dos edifícios concebidos para tal, e que devem contribuir tanto para os modelos assistenciais como para as ações projetuais e construtivas.

Fábio Bitencourt
Arquiteto D Sc
Créditos: Flex Editora

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