O  médico e escritor Moacyr Scliar acredita que o ambiente de saúde pode  ser um promotor de saúde, mas não descarta que a assistência ainda pesa  mais. Logo que chegou a Porto Alegre-RS a família de imigrantes judeus  Scliar ficou conhecida como sendo de componentes ligados a cultura. 
Carlos  Scliar era pintor, Salomão Scliar era um bom fotógrafo, Ester Scliar  era compositora, Leonor Scliar era professora de literatura. Moacyr  Scliar provou que os frutos não caem longe da árvore. O médico e  escritor é autor de 68 livros, entre romances, crônicas, contos e  ensaios, os quais muitos lhe foram concedidos prêmios literários. Nasceu  no bairro judaico do Bom Fim, no dia 23 de março de 1937. Apesar de ter  nascido em família pobre, Moacyr Scliar costuma dizer que poderia  faltar comida em casa, mas nunca livros.
Uma vez por mês sua mãe o levava para comprar pelo menos um livro na livraria Global, dia que Moacyr se deslumbrava.
A  partir de 1943 estudou na Escola de educação e Cultura, conhecida como  Colégio Iídiche e em 1948 transferiu-se para uma escola mais rígida, o  Colégio Rosário.
Por  passar grande parte do tempo escrevendo, Scliar era conhecido no Bom  Fim como o menino que escrevia. As pessoas do bairro lhe pediam para  escrever discurso para festas e esse foi um grande estímulo para uma de  suas profissões.
Foi  em Porto Alegre que se formou em medicina, em 1962. Nesse mesmo ano seu  primeiro livro, Histórias de um Médico em Formação, foi publicado.  Scliar não acreditava em seu talento literário e a medicina era  aparentemente uma boa opção profissional.
Especializou-se  no campo de saúde pública como médico sanitarista. Fez curso de  pós-graduação em Israel, é doutor em Ciências pela Escola Nacional de  Saúde Pública e lecionou na Universidade do Texas, em Austi, e em outras  faculdades conceituadas. Fez residência em medicina interna, onde se  interessou pela tuberculose como uma doença de saúde pública,  trabalhando como clínico do Hospital Sanatório Partenon. Após um curso  sobre o assunto foi convidado para trabalhar na Secretaria da Saúde do  Estado. Em 2003 foi eleito para compor a Academia Brasileira de Letras,  por 35 votos dos 36 acadêmicos.
De  acordo com o autor, a medicina sempre foi sua grande inspiração. No  livro Doutor Miragem, Scliar conta à história de um médico que é  seqüestrado e o seqüestrador fica doente. Também escreveu sobre  personagens históricos, como o médico Osvaldo Cruz, de Sonhos Tropicais e  o médico Noel Nutels, de A Majestade do Xingu. É raro Scliar escrever  algo em que não haja alusão à sua condição de médico. Os aspectos de  saúde pública sempre despertaram interesse para o autor, e a história da  medicina também lhe inspira.
Moacyr  Scliar colabora com os principais veículos de comunicação de mídia  impressa, alguns dos seus textos foram adaptados para o cinema, o teatro  e a tevê. A seguir, entrevista que Scliar concedeu a A.H sobre a  influência do ambiente hospitalar na relação de trabalho.
A.H. - Qual a contribuição que o ambiente de trabalho pode oferecer à realização da atividade do profissional de saúde?  
Scliar  - O profissional de saúde é uma pessoa que precisa de condições  materiais e emocionais para realizar o seu trabalho. Um ambiente de  trabalho agradável e confortável é essencial para contribuir com essa  labuta. 
A.H. - O ambiente interfere em que escala e em que aspectos para a qualidade da assistência? 
Scliar  - De várias maneiras o ambiente interfere, inclusive do ponto de vista  da higiene. É inadmissível que, pelas precárias condições, um  consultório ou ambulatório resultem em perigo de contaminação para as  pessoas.
A.H. - Conte alguma experiência vivida por você, onde o edifício interferiu na prática profissional?
Scliar  - Logo que me formei trabalhei num posto de saúde que era de madeira,  não tinha água corrente, não tinha banheiro e onde, por causa do teto de  zinco, o calor era insuportável. Atender ali era um martírio. Também  trabalhei num hospital em que ratos e baratas corriam pelos corredores. 
A.H. - É possível compatibilizar os interesses existentes entre a preservação ambiental e a prática assistencial?
Scliar - Não só é possível, como é altamente desejável.
A.H. - Como é um ambiente de trabalho hospitalar ideal?
Scliar  - Onde as palavras chaves: limpeza, higiene, conforto, disponibilidade  de recursos técnicos e ambientes agradáveis estão sempre presentes.
A.H. - Qual a visão contemporânea do profissional e do usuário para o ambiente de saúde que efetivamente promova saúde?
Scliar  - De maneira geral, tanto os profissionais como os pacientes estão  conscientes da necessidade de se ter um bom ambiente de saúde para se  trabalhar.
A.H. - O ambiente de saúde pode ser um promotor de saúde??
Scliar  - Claro. Todo ambiente influencia as pessoas, positivamente ou  negativamente. Um posto de saúde limpo, por exemplo, ensina o hábito de  higiene.
A.H. - Os materiais aplicados no edifício hospitalar são percebidos pelo profissional e pelos usuários?
Scliar - Certamente.
A.H. - O conforto humano no ambiente de saúde depende do edifício e da assistência em igual proporção?
Scliar - Não, acho que a assistência ainda pesa mais.
A.H.  - As diversidades de ambientes de saúde representam uma evolução da  compatibilidade do edifício à atividade ou isso pode criar muitos ruídos  da percepção dos usuários?
Scliar - As diversidades de ambientes de saúde dependem das necessidades dos profissionais e de suas exigências. 
A.H. - Qual a dimensão da função terapêutica do ambiente de saúde?
Scliar - É muito grande, influencia e muito, na cura.
- Publicação: Hospitalar
- Edição: 2
- Janeiro de 2007
 
 
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