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terça-feira, 22 de novembro de 2011

Um balanço da década de 2000 - Edifícios Educacionais

Escola da FDE (CH E1-A) em Campinas, SP, Una Arquitetos
Escola da FDE (CH E1-A) em Campinas, SP, Una Arquitetos


Qualidade arquitetônica avança nos estabelecimentos de ensino
 
Entre 2001 e 2009 houve decréscimo de 3,4 milhões de matrículas no ensino regular brasileiro, público e privado, sobretudo a partir do meio da década, apontam os censos educacionais do Ministério da Educação/Inep/Deed. A maior baixa ocorreu na região Nordeste (15% a menos de alunos inscritos) e a menor no Sudeste, com recuo de 5%. São Paulo, por exemplo, permaneceu estagnado nos cerca de 8 milhões de alunos cursando da primeira à terceira série do ensino médio, dos quais 85% pertencentes à rede pública do Estado e município. O melhor dos desempenhos nacionais, em termos de acesso à educação, ainda é, portanto, insatisfatório. No que diz respeito à qualidade arquitetônica dos estabelecimentos de ensino, contudo, os avanços foram inegáveis.

Em São Paulo, já nos primeiros anos da década começaram a concretizarse os novos programas: as escolas da Fundação para o Desenvolvimento da Educação (FDE), órgão vinculado à Secretaria da Educação estadual; e os Centros Educacionais Unificados (CEUs), da prefeitura paulistana. São concepções diversas em escala (mais compacta na FDE), porém similares no propósito de promover a interação da arquitetura com o entorno, normalmente em bairros de ocupação informal já consolidada. 

Os CEUs são como grandes clubes imersos no cotidiano escolar, com programa setorizado em blocos independentes e predominância da implantação linear.

Escola da FDE (CH F2) em Campinas, SP, Andrade Morettin
Escola da FDE (CH F2) em Campinas, SP, Andrade Morettin
 
Escola da FDE (CH E1-B) em Campinas, SP, Vainer e Paoliello
Escola da FDE (CH E1-B) em Campinas, SP, Vainer e Paoliello
 
Escola da FDE em Votorantim, SP, Grupo SP
Escola da FDE em Votorantim, SP, Grupo SP
 
A concepção geral arquitetônica é de autoria de Alexandre Delijaicov, André Takiya e Wanderley Ariza, do Departamento de Edificações da prefeitura de São Paulo, expressa nos projetos das unidades Jambeiro e Rosa da China.

Suas diretrizes foram parcialmente contestadas na gestão dos prefeitos José Serra/Gilberto Kassab, que delegou ao arquiteto Walter Makhohl a revisão de aspectos relacionados à manutenção predial e à grande escala, a fim de flexibilizar a implantação do projeto. Makhohl, então, concebeu o CEU Água Azul, no mais sem alterações substanciais em relação aos projetos anteriores.

As primeiras escolas da FDE foram implantadas em Campinas, duas a duas, com projetos dos escritórios MMBB, Andrade Morettin, Vainer e Paoliello e Una Arquitetos. Elas serviram de piloto para a primeira leva dessa nova geração, destacando-se a rica espacialidade e as complexas relações urbanas dos edifícios de princípios tão rígidos: utilização de elementos pré-fabricados de concreto, modulação padronizada e seleta gama de materiais.

Os projetos de Morettin e Una se destacam, respectivamente, pela semipermeabilidade dos elementos de vedação (venezianas translúcidas e telhas metálicas) e pela apropriação de parte do térreo pelo espaço público.

Escola da FDE no Tremembé, São Paulo, Angelo Bucci e Álvaro Puntoni
Escola da FDE no Tremembé, São Paulo, Angelo Bucci e Álvaro Puntoni
 
Escola da FDE em Vila Nova, São Paulo, Barossi & Nakamura
Escola da FDE em Vila Nova, São Paulo, Barossi & Nakamura
 
Escola Sesc de Ensino Médio, Rio de Janeiro, Índio da Costa AUDT
Escola Sesc de Ensino Médio, Rio de Janeiro, Índio da Costa AUDT
 
Um dos aspectos importantes da experiência da FDE foi promover a efetiva interação entre grande número de importantes escritórios de arquitetura. Da segunda leva de projetos, implantados entre 2005 e 2006, são memoráveis as unidades Tremembé, de autoria de Angelo Bucci e Álvaro Puntoni; Jaraguá, de Ubyrajara Gilioli; e Vila Nova, de Barossi & Nakamura. Mais recentemente, o escritório Grupo SP criou a escola na cidade de Votorantim.

No Rio de Janeiro, a Escola Sesc de Ensino Médio contemplou novas modalidades de negócio e programa de ensino. Concebida por Luiz Eduardo Índio da Costa e localizada na Barra da Tijuca, é tanto preparatória para o ensino superior quanto profissionalizante, fruto de parceria público-privada (a verba é pública e o processo de construção/ gestão ficou a cargo do Sesc). Além dos tradicionais equipamentos pedagógicos, de esporte e lazer, possui como diferencial a existência de moradias para professores e alunos, o que faz de seu campus quase uma pequena cidade planejada, cujo ponto alto arquitetônico é o edifício do teatro.

No item campus universitário, Manoel Coelho passou a década implantando, em Curitiba, as edificações da Universidade Positivo, que teve plano diretor concebido pelo próprio arquiteto. Um dos destaques é o prédio trapezoidal da biblioteca, com seus planos suspensos e justapostos. Assim como na universidade curitibana, a unidade arquitetônica é um aspecto presente nas edificações do campus Senac São Paulo, de autoria de Aflalo & Gasperini Arquitetos. O projeto foi baseado no reaproveitamento e urbanização do terreno e das edificações de origem fabril.

Já a dupla Rafael Perrone e Márcio do Amaral concebeu um centro educacional em Indaiatuba, SP, para a qualificação dos professores da rede municipal de ensino, no qual a fragmentação espacial tem propósito similar ao do Centro Educacional Jardim Santo André, do escritório Brasil Arquitetura. Embora em contextos de implantação opostos - o primeiro localizado em meio à área verde do Parque Ecológico do Tietê, o segundo no miolo de uma já consolidada área de ocupação informal da periferia do ABC paulista -, ambos são hábeis em promover a permeabilidade da arquitetura para com o entorno.

Escola da FDE no Jaraguá, São Paulo, Ubyrajara Gilioli
Escola da FDE no Jaraguá, São Paulo, Ubyrajara Gilioli
 
Biblioteca da Universidade Positivo, Curitiba, Manoel Coelho
Biblioteca da Universidade Positivo, Curitiba, Manoel Coelho
 
Centro Integrado de Apoio à Educação, Indaiatuba, SP, Rafael Perrone e Márcio do Amaral
Centro Integrado de Apoio à Educação, Indaiatuba, SP, Rafael Perrone e Márcio do Amaral
 
Campus Senac/SP, São Paulo, Aflalo & Gasperini
Campus Senac/SP, São Paulo, Aflalo & Gasperini
 
Nesse sentido, os projetos de Affonso Risi Júnior, Francisco Spadoni e Samuel Kruchin lidaram com diretrizes de contextos adensados de inserção em São Paulo.

Risi resolveu com a verticalização a implantação de um novo edifício da Faculdade Paulistana (Fapa) em situação de miolo de quadra; Spadoni levou adiante o plano diretor de adensamento da Universidade Mackenzie, concebido em parceria com Lauresto Esher em 2003, criando o edifício administrativo-pedagógico Modesto Carvalhosa, o primeiro de uma série de prédios laminares previstos para a instituição; e Kruchin engrossou o coro dos que projetaram para a zona leste da capital, com o belo projeto da Unicsul.

Na mesma região, situa-se a Escola Cáritas, de Mario Biselli e Artur Katchborian, um dos destaques da década. A implantação compacta articula pátio, volumes contundentes e uma profusão de espaços internos qualificados pelas circulações em planos diversos.

Extrapolando o universo arquitetônico do ensino básico, Marcio Kogan desenhou a escola-berçário Primetime, localizada no bairro do Morumbi em São Paulo; Felipe Bezerra projetou a Escola PHD Infantil, em Natal; e Camila Fabrini e Carlos Ferrata criaram a Escola de Reeducação do Movimento, um espaço para o ensino da dança na capital paulista.

Escola Cáritas, São Paulo, Mario Biselli e Artur Katchborian
Escola Cáritas, São Paulo, Mario Biselli e Artur Katchborian
 
Edifício Luíza de Marchi Padovese (Unicsul), São Paulo, Samuel Kruchin
Edifício Luíza de Marchi Padovese (Unicsul), São Paulo, Samuel Kruchin
 
Escola-berçário Primetime, São Paulo, Marcio Kogan e Lair Reis
Escola-berçário Primetime, São Paulo, Marcio Kogan e Lair Reis
 
Edifício Modesto Carvalhosa (Mackenzie), São Paulo, Francisco Spadoni e Lauresto Esher
Edifício Modesto Carvalhosa (Mackenzie), São Paulo, Francisco Spadoni e Lauresto Esher
 
 
Acerto social e urbano
Centros Educacionais Unificados (2001/04) - Alexandre Delijaicov, André Takiya e Wanderley Ariza
Por Guilherme Wisnik
CEU Rosa da China
CEU Rosa da China
 
Os Centros Educacionais Unificados (CEUs) foram projetados em 2001, no início da administração de Marta Suplicy na prefeitura de São Paulo, e construídos entre 2003 e 2004. 
Somando 45 unidades instaladas em diferentes bairros da periferia da cidade, eles abrigam de modo integrado centros de educação infantil, de ensino fundamental e creche, somados a equipamentos comunitários importantes, tais como quadras poliesportivas, piscinas, teatro/cinema, biblioteca e telecentro. 
 
Com estrutura de peças pré-moldadas de concreto e escadas metálicas, constituem-se como um pavilhão linear modulado e conectado a volumes anexos, permitindo diferentes formas de implantação, conforme o terreno.

O CEU é um projeto de grande
lucidez e coragem. É fruto do idealismo de arquitetos que trabalhavam no órgão público (Alexandre Delijaicov, André Takiya e Wanderley Ariza), somado à visão de uma prefeita que fez uma aposta social expressiva, e não apenas populista. Baseados na proposta revolucionária das escolasparque do educador baiano Anísio Teixeira, fundador da Escola Nova, e no trabalho pioneiro do arquiteto Hélio Duarte no período do Convênio Escolar em São Paulo (1948 a 1952), os arquitetos da Divisão de Projetos do Departamento de Edificações da Prefeitura (Edif) conceberam o CEU como uma espécie de “condensador social” contemporâneo para uma metrópole da periferia do capitalismo.
 
Sua base filosófica é a consideração da educação como fonte fundamental de sociabilidade e cidadania, criando equipamentos públicos de excelência que se tornam referenciais urbanos, capazes de reverter, de certa forma, estigmas sociais históricos.

Mais do que dezenas de unidades escolares situadas em bairros carentes da cidade de São Paulo - o que já seria notável -, esses edifícios são
centros comunitários de lazer, esporte, cultura e festas, abertos nos finais de semana, tornando-se referências agregadoras de civilidade em áreas pobres.

Do ponto de vista arquitetônico, o projeto nem se apequena diante da precariedade do entorno, nem o nega, criando um referencial de
urbanidade por contraste, com um desenho geométrico bem marcado, mas abrindo-se francamente para a vizinhança através de amplas superfícies envidraçadas e generosas varandas de circulação. Mais do que uma joia arquitetônica, o CEU é um grande acerto social e urbano. E o seu sucesso de público, para além das disputas políticas conjunturais, é a grande prova disso.

Publicada originalmente em PROJETODESIGN

CEU Rosa da China
CEU Rosa da China
 
CEU Jambeiro
CEU Jambeiro
 
Implantação - CEU Jambeiro
 

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